Mariana Hafiz
Como levar o conhecimento científico para qualquer pessoa e de maneira acessível? As pesquisadoras Germana Barata e Monique Oliveira, do LABinCC, propõem que a Divulgação Científica – isto é, um conjunto de práticas e atividades para conversar sobre ciência com não-cientistas – seja um caminho importante.
Isso porque é necessário levar a ciência produzida em instituições de pesquisa e em universidades para os cidadãos que não circulam nesses ambientes, tentando garantir que essa informação seja disponibilizada de maneira acessível (possivelmente gratuita) e em linguagem compreensível.
“Como acesso público ao conhecimento, entendemos: 1) o acesso gratuito a todos os cidadãos, 2) interfaces amigáveis, 3) ferramentas de contextualização do conhecimento científico e 4) diálogos inclusivos” (Barata e Oliveira, 2023)
A importância de democratizar o acesso aos resultados de pesquisa é discutida na comunidade acadêmica sobretudo desde 2002, em documentos importantes como a Declaração de Budapeste (2002), de Bethesda (2003) e de Berlin (2003). Neles, a comunidade científica defende a ideia de que o conhecimento científico é um bem público e, portanto, precisa ser acessado pela sociedade geral sem grandes empecilhos – como pagar valores altos pra acessar um estudo ou ler em uma linguagem difícil e técnica.
Os documentos são importantes para o movimento da ciência aberta e do acesso aberto, que procuram caminhos para reduzir ou retirar os custos financeiros envolvidos na hora de acessar artigos científicos, capítulos de livros ou qualquer dado produzido por pesquisadores. Tradicionalmente, esses materiais podem ser lidos mediante pagamento (geralmente em dólar ou euro) nas suas respectivas publicações e são escritos com jargões ou linguagem muito específica, que dificulta a compreensão por aqueles que desconhecem a área.
Barata e Oliveira defendem que a divulgação científica pode ser aliada da ciência aberta em tornar o conhecimento científico mais acessível porque ela faz com que cientistas, editores de revistas científicas e membros da comunidade científica dialoguem com outros públicos, precisando adaptar a sua maneira de falar e explicar ciência. Segundo elas, no caso do jornalismo científico (uma das formas de fazer divulgação científica) a Agência Bori é um bom exemplo.
A Bori firmou uma parceria com o SciELO (um agregador de várias revistas científicas latino americanas) para divulgar os estudos publicados por cientistas brasileiras nas revistas do SciELO para a imprensa nacional brasileira. Isso inclui a produção de textos jornalísticos sobre os artigos científicos dentro da Agência, o que demanda diálogo e negociação entre o jornalista escrevendo o texto e os autores do estudo para tornar o conteúdo compreensível.
Essas reflexões foram apresentadas pelas pesquisadoras do LABinCC na última Conferência Lusófona de Ciência Aberta (ConfOA), ocorrida em Natal (RN) entre os dias 18 a 21 de setembro. Na ocasião, pesquisadores de vários países apresentaram, em português, seus trabalhos envolvendo ciência aberta e acesso aberto a publicações científicas.
Referências:
Barata, Germana; Oliveira, Monique. Divulgação científica e acesso aberto: uma relação necessária para o acesso público ao conhecimento. 14ª Conferência Lusófona de Ciência Aberta (ConfOA), 2023.