No começo dos nossos trabalhos, fizemos uma primeira revisão de literatura para entender o cenário da ciência aberta durante a pandemia. Segue abaixo, com comentários. De modo geral, as referências podem ser divididas em três abordagens:

• Open Access and knowledge diffusion during the pandemic or beyond: Bermúdez-Rodríguez et al., 2020; Cunha 2020; Stueber et al., 2020, Zhu 2017;
• Open access (preprint) and science communication during the pandemic: Belli et al, 2021; Bresnau 2020; Duarte 2018;
• Open access and gender: Wilson & Montgomery 2022;  Mahmoudi 2020
• Perception of scientists of open access: Baždarić et al 2021

(Bermúdez-Rodríguez et al, 2020) Ao analisar dados de 6.631 artigos e revisões do PubMed e Scopus, publicados entre janeiro e abril de 2020, os autores demonstraram que as publicações relacionadas à Covid-19 cresceram a uma taxa média mensal de 166%, sendo a maioria publicações de acesso aberto. Eles também observaram que as publicações de acesso aberto receberam a maior atenção nas mídias sociais.

(Cunha, 2020) Em um breve artigo de opinião, a autora, inspirada pelas visões de acesso aberto de Aaron Swartz, retoma a ideia de que o acesso fechado é “um roubo privado da cultura pública”. Ela também se pergunta como seria a resposta a uma próxima pandemia se o acesso à ciência fosse aberto.

(Stueber et al, 2020) Ao defender a ciência aberta como essencial para a democracia, os autores analisaram os 42 estudos mais acessados e citados no SCielo, um banco de dados com modelo de acesso aberto na América Latina. Os estudos foram divididos em três eixos principais: 1) a contribuição da ciência no combate à Covid-19 – ações e políticas públicas; 2) protocolos e diagnósticos para profissionais de saúde; e 3) questões sociais, políticas e econômicas na pandemia.

(Zhu, 2017) Artigo completo sobre o comportamento de pesquisadores no Reino Unido sobre acesso aberto. Em uma pesquisa com 12 universidades, os autores demonstram que: 1) a maioria dos pesquisadores reconhece a importância do Acesso Aberto; 2) Acadêmicos em início de carreira publicam menos em Acesso Aberto; 3) A maioria dos acadêmicos prioriza periódicos de alta reputação na área em detrimento dos periódicos de Acesso Aberto; 4) Pesquisadores que acreditam que artigos de Acesso Aberto geram mais citações tendem a publicar em periódicos de Acesso Aberto.

(Belli et al., 2020) Os autores analisaram 18.875 artigos indexados na Web of Science e descobriram que a porcentagem de artigos de acesso aberto sobre o coronavírus no período de 2001 a 2020 é de 59,2% e de 91,4% em 2020. A colaboração internacional está crescendo em todos os países, com a China fornecendo o maior número de documentos para a amostra.

(Breznau, 2020) O autor afirma que a Ciência Aberta pode evitar a disseminação de notícias falsas ou, pelo menos, limitá-la. O artigo cita o Estudo Heinsberg, que, em uma rápida análise da disseminação do Sars-CoV-2 no carnaval alemão (2020), mostrou dados inferiores aos estimados pela Johns Hopkins. Os resultados foram divulgados em uma coletiva de imprensa, mas faltou transparência nos dados e não houve divulgação de pre-print. Segundo o autor, a falta de contexto nessa divulgação levou a informação a ser interpretada como um indicador de que era seguro reabrir.

(Duarte, 2020) Considerando as novas concepções de ciência, sociedade, produção e disseminação de informações, o autor entende que a mudança no fluxo de conhecimento, baseada na ciência livre, é capaz de gerar profundas transformações nos valores sociais, culturais e econômicos.

(Wilson & Montgomery, 2022) Os autores encontraram indicadores de uma relação positiva entre as mulheres e o acesso aberto, com a estratégia sendo apontada como capaz de reduzir a desvantagem estrutural que as mulheres pesquisadoras enfrentam. Para apoiar essa afirmação, os autores citam: 1) mais mulheres pesquisadoras selecionam publicações de periódicos abertos (Golden e Hybrid OA); 2) um aumento na autoria mista entre homens e meninas em periódicos Golden OA; e 3) posições mais altas de autoria feminina em publicações na Open Science.

(Mahmoudi, 2020) O autor extraiu informações do Altimetric Explorer, avaliando a primeira e a última autoria de artigos sobre a Covid-19, bem como a cobertura da mídia, discussões em blogs e menções no Twitter e no Facebook. Os resultados mostraram uma forte disparidade de gênero com: 65% dos homens e 35% das mulheres como primeiro autor; 83% dos homens e 17% das mulheres como último autor; e 85% dos homens e 15% das mulheres como o primeiro e o último autor. Entretanto, na análise da disseminação desses artigos entre jornalistas e o público em geral, o autor encontrou maior paridade de gênero.

(Baždarić et al 2021) Pesquisa realizada com cientistas croatas sobre Ciência Aberta (revisão por pares, dados abertos e pre-print). As posições mais positivas foram em relação aos dados abertos. Os croatas foram neutros em relação aos pre-prints e mais negativos em relação à revisão por pares aberta. Além disso, há uma correlação entre o contato anterior com a OS e uma boa avaliação do tópico.

(Massarani et al, 2020): percepção de 26 jornalistas que cobriram ciência durante a pandemia. Eles afirmaram ter escrito mais do que o normal e que o interesse e o espaço para a ciência e a saúde aumentaram. Os jornalistas mencionaram que foi mais fácil entrar em contato com cientistas, médicos e artigos (com revisão por pares).

(Scidev, 2020) A breve postagem compartilha percepções sobre a relevância da África e do Sul Global durante a pandemia e a oportunidade de ter uma melhor colaboração entre os países. Exorta a necessidade de reconhecer a relevância da pesquisa local e a mudança para que a mídia global divulgue os resultados dessas regiões. Para os autores, as agências de notícias científicas desempenham um papel importante no fortalecimento da visibilidade da ciência do Sul Global.

(Marques, 2022) Apresenta os efeitos da liberação antecipada de artigos científicos para a imprensa. Estudos verificaram que artigos embargados recebem mais menções nas mídias sociais, mais visibilidade entre acadêmicos e, portanto, criam uma distorção do que é relevante do ponto de vista científico. Ele menciona a Agência BORI como uma ferramenta para diminuir essa distorção, pois tem mecanismos objetivos de seleção de artigos com relevância social.

(Eurekalert, 2020) Uma análise dos 10 principais  press releases em 2020 pelo Eurekalert mostra que a comunicação científica e a relevância social do objeto do artigo estão em primeiro lugar. Entre os 10 principais press releases, metade é liderada por mulheres cientistas, de nações mais variadas, com apenas um artigo de acesso fechado. A postagem mostra que as agências de notícia são fundamentais para comunicar a ciência diretamente ao público, gerando grande atenção social.

Baždarić, K., Vrkić, I., Arh, E., Mavrinac, M., Gligora Marković, M., Bilić-Zulle, L., Stojanovski, J., Malički, M., 2021. Attitudes and practices of open data, preprinting, and peer-review—A cross sectional study on Croatian scientists. PLoS ONE 16, e0244529. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0244529

Belli, S., Mugnaini, R., Baltà, J., Abadal, E., 2020. Coronavirus mapping in scientific publications: When science advances rapidly and collectively, is access to this knowledge open to society? Scientometrics 124, 2661–2685. https://doi.org/10.1007/s11192-020-03590-7

Bermúdez-Rodríguez, T., Muraro da Silva, V., Spatti, A.C., Abreu Sampaio Leme Monaco, C., 2020. O impacto do acesso aberto na produção e difusão de conhecimento sobre a Covid-19. Liinc Rev. 16, e5296. https://doi.org/10.18617/liinc.v16i2.5296

Breznau, N., 2020. Science by press conference: What the Heinsberg Study on COVID-19 demonstrates about the dangers of fast, open science. Impact of Social Sciences. URL https://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/2020/08/20/science-by-press-conference-what-the-heinsberg-study-on-covid-19-demonstrates-about-the-dangers-of-fast-open-science/ (accessed 11.11.22).

Cunha, M.B. da, 2020. Aaron Swartz: bandido ou herói do acesso aberto? RICI 13, 475–479. https://doi.org/10.26512/rici.v13.n2.2020.31711

Duarte, D.A., 2018. A divulgação científica e o movimento de acesso livre ao conhecimento [WWW Document]. Repositório Unicepe. URL https://portal.unisepe.com.br/asmec/wp-content/uploads/sites/10006/2018/10/Art.-002.pdf (accessed 11.11.22).

EurekAlert, 2020. No. 1 news release on EurekAlert!’s 2020 Trending List smashes previous all-time record for visits [WWW Document]. EurekAlert! URL https://www.eurekalerhttps://www.eurekalert.org/news-releases/616312t.org/news-releases/616312 (accessed 11.11.22).

Fonseca, Marina Assis; Oliveira, Bernardo Jefferson de. Variações sobre a “cultura científica” em quatro autores brasileiros. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.22, n.2, abr.-jun. 2015, p.445-459.

Mahmoudi, M., 2021. Gender parity among the Altmetric Top 100 publications on COVID-19. Future Science OA 7, FSO651. https://doi.org/10.2144/fsoa-2020-0175

Marques, F., 2022. A ciência destacada pelo jornalismo [WWW Document]. URL https://revistapesquisa.fapesp.br/a-ciencia-destacada-pelo-jornalismo/ (accessed 11.11.22).

SciDev, Unesco, 2022. Journals opening up to science expertise from South. International Year of Basic Sciences for Development. URL https://www.iybssd2022.org/en/journals-opening-up-to-science-expertise-from-south/ (accessed 11.11.22).

Stueber, K., Silveira, F.X. da, Teixeira, M. do R.F., 2022. Ciência Aberta, acesso aberto: revisão de literatura da comunicação científica sobre Covid-19 na plataforma SciELO (2020). Saúde debate 46, 348–367. https://doi.org/10.1590/0103-11042022e124

Wilson, K., Montgomery, L., 2022. Changing the gender narrative with open access. Impact of Social Sciences. URL https://blogs.lse.ac.uk/impactofsocialsciences/2022/07/14/changing-the-gender-narrative-with-open-access/ (accessed 11.11.22).

Zhu, Y., 2017. Who supports open access publishing? Gender, discipline, seniority and other factors associated with academics’ OA practice. Scientometrics 111, 557–579. https://doi.org/10.1007/s11192-017-2316-z